O poder feminino nas mitologias de diferentes culturas
O poder feminino está presente desde a Antiguidade milenar em muitos mitos de diferentes culturas. Hoje podemos assistir a diversos filmes e séries inspirados nessas mitologias para criar seus enredos e caracterizar seus personagens, sobretudo super-heróis.
Na mitologia grega, várias personificações do poder feminino podem ser encontradas, como Gaia, que é considerada a deusa primordial da Terra, ou Afrodite, deusa que traz como símbolos a beleza, o amor e o sexo. Já Atena se relaciona à sabedoria, à arte e à criação, enquanto Deméter é a deusa das terras férteis, da colheita, da agricultura e das estações do ano. Podemos citar ainda Ártemis, a divindade da caça, da vida selvagem e da Lua, e Perséfone,associada ao submundo, sendo a guardiã dos mistérios e do mundo dos mortos.
Na mitologia romana, as mulheres também têm lugar de destaque, sendo as mais conhecidas: Vênus, deusa do amor, da beleza e da fertilidade; Minerva, deusa da sabedoria, da arte, da criação, da guerra e da justiça; e Ceres, deusa da agricultura, das terras férteis, da colheita e das estações do ano.
Na mitologia celta, Macha é a deusa ancestral da soberania, do poder feminino e da força da Terra. Para o povo celta, a mulher era especial porque era associada à Mãe Terra.
A força e o poder feminino também se manifestam na mitologia hindu. Dentre as divindades hindus, Shakti é a fonte feminina de poder no universo, associada à criação e ao nascimento. Sita é a deusa que carrega consigo os poderes da prosperidade, da felicidade, da fortuna e do sucesso. E Saraswati é a deusa protetora dos músicos, escritores, artesãos e artistas em geral. Já a deusa Kali é a Mãe das Trevas.
No mundo oriental, o poder feminino também tem proeminência. Na mitologia chinesa, Nuwa cria a humanidade, moldando-a a partir do barro. Xihua é a Rainha Mãe do Ocidente, também conhecida como Xiwangmu. Guan Yin é reverenciada como a divindade da compaixão, personificando a misericórdia em sua forma física. Mazu, considerada a deusa do mar e protetora dos pescadores. Quan Yin a deusa da misericórdia e da compaixão. E seguem outras tantas deusas diversas, com suas variações entre diferentes interpretações e histórias.
O poder feminino também se sobressai nas mitologias americanas indígenas, nas mitologias africanas, como as de origem banto, jeje e iorubá, e nas mitologias afro-brasileiras, tão presentes em nosso cotidiano, oriundas da extensa migração africana, forçada pelo modelo escravocrata que permeou todo desenvolvimento do Brasil colonial e imperial.
Assim, muitos mitos e divindades afro-brasileiras estão presentes não só na esfera religiosa, mas em nossa cultura e cotidiano: viraram tema de músicas, batizaram cidades, ruas e rios, e são homenageados em festas populares, muitas vezes sincretizados com santos e santas católicos, como São Jorge, Santa Bárbara, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora Aparecida.
No episódio Oxum e o poder feminino, do Animafro , você poderá apreciar um mito iorubá que representa o poder feminino na figura da orixá Oxum, a rainha da água doce, dona dos rios e cachoeiras, cultuada em religiões de matriz afro-brasileira, como candomblé, de diferentes nações, o batuque, o xangô e a umbanda. A mitologia afro-brasileira vem de uma tradição oral e a história contada nessa animação foi inspirada a partir de pesquisa a diversas fontes, como pesquisadores, estudiosos do tema, conversas com babalorixá e conhecedores de itãs (relatos míticos). Originou-se, portanto, de pesquisa a várias fontes e saberes tradicionais de domínio público.
A animação é narrada por uma griote (feminino de griô), pessoa que tem o dom e o papel de preservar e transmitir histórias, conhecimentos, canções e mitos de seu povo, em culturas da África Ocidental.
Vários povos africanos tinham e/ou têm especialistas em manter e transmitir oralmente sua cultura, mas eles recebem nomes diferentes e suas atribuições podem variar. Por exemplo, alguns deles têm o papel de divertir as pessoas e podem inventar histórias, há os que também são artistas, músicos, outros só podem contar histórias que realmente aconteceram etc.
Para saber mais: BÂ, Hampaté Amadou. Cap.8. A tradição viva. In. Kizerbo J. (ed.). História da África. vol. I. Brasília: Unesco, 2010. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/345975/mod_forum/intro/hampate_ba_tradicao%20viva.pdf. Acesso em: 20 jan. 2024.